Indo além do protagonismo feminino

Um fã de cinema poderia pensar que, com filmes estrelados por mulheres como Rogue One e Ghostbusters: Answer the Call, Hollywood estaria fazendo um enorme progresso quando se trata de paridade de gênero no cinema. Mas isso não é bem verdade.

Quando foi assistir Rogue One, a cientista Amber Thomas estava animada. Afinal, o rosto da protagonista Jyn Erso era o maior do cartaz. Certamente este filme trataria de paridade de gênero na ficção científica e no universo Star Wars. Mas o que ela foi perceber depois de assistir ao filme e olhar para o cartaz novamente era que Jyn passou a história cercada por homens e era muitas vezes a única mulher em qualquer cena. Sobre isso, Amber escreveu:

Parecia estranhamente familiar ter uma protagonista feminina tão desnorteada. Então eu percebi que Jyn e a Princesa Leia sofreram a mesma desigualdade, com 39 anos de diferença. Eu estava sobrecarregada com a necessidade de saber exatamente como a representação feminina nos filmes Star Wars havia mudado. Mas parecia injusto comparar filmes feitos hoje com filmes feitos décadas atrás.


Então ela decidiu focar na representação de gênero em todos os filmes de maior bilheteria de 2016. Estudos semelhantes costumam focar no diálogo e no tempo de tela, mas Amber decidiu se concentrar exclusivamente no diálogo, o que lhe permitiu se concentrar em personagens com um papel ativo na história e  cortar personagens não falantes da sua análise. O que ela achou?

Procurando Dory e Zootopia se saíram melhor no quesito diálogo individual da protagonista, com Dory falando 4210 palavras ao longo de seu filme e Judy Hopps falando 3114. Suicide Squad veio em terceiro, com Amanda Waller falando 1210 palavras. Enquanto isso, Rogue One apareceu num quarto lugar distante com Jyn Erso falando 1045 palavras em todo o filme (em comparação, Cassian falou 1355 palavras, e nem deveria ser seu filme).

Então, o que isso nos ensina? Que a única maneira de permitir que as protagonistas femininas também tenham destaque nos diálogos é se elas forem personagens de animação? Isso é mais fácil de aceitar do que mulheres reais falando e sendo o centro do enredo?

Você não pode simplesmente criar uma protagonista feminina e pronto, nem pode ter um filme com um protagonista de qualquer sexo e ficar satisfeito com esse protagonista sendo cercado quase que inteiramente por homens. Esse não é o mundo em que vivemos. Mesmo em áreas dominadas pelos homens, essas áreas ainda terão algumas mulheres que são vocais e ativas. Essas mulheres têm amigas. Muitos homens têm amigas do sexo feminino (com as quais eles não estão tentando transar ou qualquer coisa do tipo!). As pessoas têm esposas, mães e irmãs, bem como médicas, professoras, advogadas, e assim por diante.

Não se trata de pedir e esperar que os roteiristas sejam "a mudança que querem ver no mundo". Trata-se de esperar que eles façam o mínimo necessário para realmente refletir o mundo como ele é. As mulheres reais no mundo dizem mais e fazem mais do que conseguimos ver na tela. Já é hora disso mudar!


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Fonte: The Mary Sue.

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